Decidir é algo inevitável e fundamental para nossa existência. Não há uma única ação que tomemos que não seja precedida por uma resolução: andar, falar, comer, viajar, fazer compras… e o que pode ser chamado de decisões de alto impacto ou uma boa decisão ? Podemos afirmar que são decisões que levam em conta fatores que proporcionem consciência e segurança e que são tomadas no momento adequado, sob pena de se perder uma oportunidade ou evitar algum mal.

Nem sempre nos damos conta da intrincada teia de decisões que tomamos desde o momento em que acordamos até o último pensamento antes de dormir. As decisões consideradas fáceis nos dão pouca liberdade de escolha, as suas consequências em geral são de curto prazo, o seu impacto em nossos resultados é baixo e normalmente não afetam outras pessoas à nossa volta. Um exemplo é a nossa alimentação, a liberdade de escolha é limitada: me alimento agora ou não? Como algo leve ou mais pesado? E o impacto no caso de erro é pequeno — caso não haja algum problema de comorbidade em jogo, claro.

Decidir é algo inevitável e fundamental para nossa existência. Não há uma única ação que tomemos que não seja precedida por uma resolução

Já as decisões difíceis, ou decisões de alto impacto, têm ampla liberdade de escolha, as consequências são de longo prazo e impactam terceiros – como a escolha de uma profissão. Um jovem saindo do ensino médio tem mais de 2 mil profissões para escolher, ou seja, possui uma enorme liberdade de escolha, a noção de erro ou acerto só virá no longo prazo, o impacto é alto e envolve terceiros — imagine um piloto de avião ou um médico que escolheram a profissão de maneira equivocada.

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Nas funções de gestão, claro que também há decisões difíceis a serem tomadas. Se a empresa se encontrar diante de uma perda de participação de mercado, por exemplo, serão necessárias resoluções complexas e drásticas, como o remanejamento de pessoal, demissões, mudanças nos processos de produção ou a criação de novos produtos.

Mudanças conjunturais na economia ou problemas de gestão em áreas críticas da empresa podem resultar em uma situação financeira desfavorável e ameaçadora. Isso exigirá intervenções profundas e de choque na organização e a escolha entre várias possibilidades, cada qual com um repertório próprio de consequências futuras. Um escândalo envolvendo a liderança da empresa trará danos à reputação e ações contundentes que nunca serão fáceis nem simples.

Nem sempre nos damos conta da intrincada teia de decisões que tomamos desde o momento em que acordamos até o último pensamento antes de dormir

Por isso, é importante saber identificar quais são as decisões difíceis, as decisões de alto impacto, para que não percamos tempo diante de desafios simples de resolver e nos equivoquemos reagindo como se estivéssemos diante de problemas complexos. Tire da sua frente o mais rápido que puder, as questões que podem ser contornadas sem dispêndio de muita energia. No início, quando ainda somos profissionais sem muita experiência, isso talvez exija doses de coragem e de iniciativa.

Caso a questão a ser enfrentada seja das difíceis, considere o tempo como seu amigo. Traga essa decisão de alto impacto para o mundo da reflexão e da razão – isso se faz isolando a emoção, respirando e esperando que a mente se acalme. Mas, decida, – não procrastine.

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Um fator essencial para tomar uma boa decisão é o autoconhecimento – saber quais são os seus valores e com base nisso, fazer três perguntas a si mesmo: estou baseando essa decisão na minha essência ou na opinião dos outros? Estou decidindo para atender apenas aos meus desejos ou ao que é melhor para o maior número possível de pessoas? Quais as origens e as consequências da decisão?

Um fator essencial para tomar uma boa decisão é o autoconhecimento – saber quais são os seus valores

Quando decidimos considerando a própria essência e não o que é externo, ponderando pelo maior número de pessoas atingidas positivamente pela nossa escolha, maior será a chance de êxito e realização. Além disso, se refletirmos sobre as consequências de tal decisão e isso for confortável, assim como se os riscos forem aceitáveis, melhor ainda.

Como diria o filósofo Kant, “se você não puder contar o que fez e como fez, não o faça. Os motivos que você tem para não contar são os mesmos que você tem para não fazer”. Considero que se eu não puder falar abertamente durante um jantar com minha família sobre uma decisão que tomei, ela certamente estará equivocada.

Com os meus 30 anos de experiência em cargos de alta gestão, cheguei a esses três pilares importantes para sermos mais assertivos nas escolhas: informação, emoções e valores baseados em nosso autoconhecimento. Recolher informações e dados que nos ajudem a entender o contexto no qual uma decisão será tomada, seus riscos e suas oportunidades, é uma forma de se preparar para agir, isso nos ajuda a lidar de maneira inteligente com as decisões de alto impacto.

Considero que se eu não puder falar abertamente durante um jantar com minha família sobre uma decisão que tomei, ela certamente estará equivocada

O segundo ponto é o emocional: faz parte do processo de gestão lidar com frustrações, sonhos, ambições e identificar nossos medos. A questão principal é equilibrar a balança – não dá para decidir algo importante quando estamos emocionalmente tomados. Por último, e a meu ver, mais importante, é que as decisões precisam ser baseadas em nossos valores.

É possível aprender estratégias e técnicas que podem aumentar a margem de sucesso de nossas decisões de alto impacto. Ainda que erremos, o fato de estarmos conscientes e bem-posicionados com relação aos nossos valores na tomada de decisão que fizermos diante das alternativas disponíveis, isso fará com que enfrentemos eventuais falhas e consequências com mais tranquilidade, sendo que dessa maneira, será possível identificar claramente em que momentos nos equivocamos no processo.

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O ambiente dos negócios, com suas pressões e prazos curtos, acaba por nos incentivar a tomar decisões de alto impacto de maneira automática ou deixando a emoção tomar conta, o que nos tira o tempo para organizar as informações e refletir com relação às escolhas que temos à nossa frente. A consequência desse hábito é que frequentemente nossas decisões são de uma qualidade inferior àquela que tomaríamos caso agíssemos de uma maneira mais calma, racional e lógica.

Faz parte do processo de gestão lidar com frustrações, sonhos, ambições e identificar nossos medos. a questão principal é equilibrar a balança

Por isso, tomar decisão é um processo de aprendizagem. Quando fazemos escolhas consistentes e alinhadas com os nossos valores, ganhamos confiança, ficamos mais confortáveis e rápidos ao fazer as próximas. Saber como decidir de maneira inteligente e eficaz é uma das habilidades mais importantes para o sucesso profissional.

A necessidade de estarmos à altura de um mercado de trabalho que está sempre se transformando e sendo modificado por novas tecnologias e modelos de gestão, faz com que tenhamos que tomar decisões de alto impacto com sabedoria, com o risco de, se não escolhermos um bom caminho, percamos oportunidades fundamentais para a empresa que trabalhamos, e consequentemente, para nós.

Mas se com o tempo a consequência de sua decisão se mostrar diferente do que você esperava, não hesite em procurar outros caminhos e buscar outras soluções. Lembre-se: nada é mais importante para a sua carreira e para os seus negócios do que saber decidir.

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Uranio Bonoldi é consultor em planejamento estratégico e governança corporativa, professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre “Poder e Tomada de Decisão”, escritor e palestrante. Trabalhou por mais de 30 anos em cargos de alta gestão, dentre os quais, CEO da Fundação Butantan. Para mais informações, visite: www.uraniobonoldi.com.br. Autor do livro Decisões de Alto Impacto publicado pela editora Alta Books